Revisitando a Teoria da Administração

teoria da administração

A vida nos oferece vários caminhos. Optar por um deles, em muitos casos, significa abandonar os demais. Assim foi comigo.

Ao terminar o mestrado na Engenharia Florestal eu não estava muito certo de que deveria continuar o doutorado na mesma área. Não pela área florestal em si, que aprendi a gostar, mas pelo receio das dificuldades futuras em ter condições para participar de um concurso público. Ora, onde eu acharia um concurso que pedisse graduação em Administração e mestrado/doutorado em Engenharia Florestal? Seria bem complicado, não?

Desta forma, terminei o mestrado e não fiz, em seguida, o processo para o doutorado. Resolvi esperar um pouco. Consegui vaga em uma faculdade de Administração da região e comecei a dar aulas. Coitados dos meus primeiros alunos! As aulas eram horríveis e eu achava uma hora e meia de aula uma eternidade! rsrsrs Preparava diversas aulas para poder “garantir” que eu teria algo para falar em sala de aula! Mas essa dificuldade foi um baita aprendizado.

Aproveitei os seis meses pós-defesa de mestrado para, além das aulas, também escrever os artigos para as revistas científicas. Comecei a pensar no doutorado, mas as dúvidas prosseguiam. Então defini algo: iria tentar doutorado em Administração em duas universidades federais (UFSC e UFLA) e doutorado na Engenharia Florestal (na realidade o programa se chama Ciência Florestal) na UFV. Pensei: “que o destino decida se eu sigo na Engenharia Florestal ou se mudo para a Administração!”. Se eu passasse em algum programa da Administração, eu iria para lá. Seria a prioridade, não por não gostar da área florestal, mas pela questão de concursos futuros, como já mencionado antes.

Felizmente não passei em nenhuma das duas universidades de pós-graduação em Administração, mas apenas no doutorado da UFV, que é na área florestal. Foi a melhor coisa que poderia acontecer: dar seguimento ao meu trabalho de certificação florestal. Novas ideias e projetos teriam que surgir, pois em um curso de doutorado a exigência é maior e torna-se necessário elaborar uma tese em um tema ou assunto inédito.

Paralelamente, adotei os ideais do “Philosophiæ Doctor”, expressão em latim para a abreviatura Ph.D., o famoso doutorado realizado no exterior, mas que corresponde, nada mais, nada menos, ao nosso doutorado acadêmico aqui no Brasil (no nosso caso, o diploma vem como Doctor Scientiae – D. Sc. – e não Ph.D.).

Na concepção do Ph.D. é necessário incorporar valores filosóficos no trabalho de tese, independente da área do conhecimento em que se está estudando/pesquisando. Assim, eu estava ciente que, para o doutorado, eu precisaria ler muito e ser capaz de argumentar, contra-argumentar, ser capaz de propor soluções e, principalmente, algo novo para a sociedade. Segui fielmente esta cartilha!

Era preciso, ainda, vincular o tema do doutorado com a Engenharia Florestal e, portanto, segui trabalhando firme com certificação florestal na indústria de móveis. Escrevemos um projeto de pesquisa e obtivemos um recurso financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), assim como já havíamos obtido no mestrado.

Queria fazer algo prático no doutorado! Era essa a proposta. Aproveitamos, então, uma reunião de empresários do polo moveleiro de Ubá e, ao nos concederem a palavra, informei que tínhamos um recurso financeiro para fazer uma “consultoria gratuita” em alguma indústria de móveis do polo, bastando, para isso, que tivesse algum interessado em “abrir as portas da empresa para nós”. Acabou a reunião e parecia que ninguém tinha se importado com nossas palavras. Até que um senhor se aproximou de nós e pediu maiores informações. Explicamos o projeto e durante quase dois anos realizamos a consultoria na empresa dele que, ao final, obteve a certificação florestal FSC. Em troca da “consultoria gratuita”, eu obtive alguns dados importantes para minha pesquisa.

De certa forma, eu sabia que ali já haveria uma pesquisa para o doutorado e isso bastaria para minha defesa de tese. Todavia, eu queria fazer mais.

Eu me lembro que em uma conversa com o professor Laércio Jacovine, meu orientador, eu lhe disse: “professor, não encontrei nada na literatura que unisse os modelos tradicionalmente usados em Administração com as questões ambientais. Sempre falam de história, das conferências do meio ambiente, mas quando quero ver a relação da teoria das empresas com o meio ambiente, eu não acho nada!”. Ao terminar de pronunciar as palavras, o professor Laércio, sabiamente, me disse: “Mas se não existe, escreva então!”. Foi o estopim para que eu pensasse seriamente no assunto. O desafio estava lançado!

A partir daí comprei livros sobre Marketing, sobre Comportamento do Consumidor, sobre Estratégia e Vantagem Competitiva e comecei a analisar a teoria e os modelos usados na Administração. Comecei a pensá-los sob a ótica dos produtos verdes e fui fazendo adaptações. Foram livros e livros devorados e anotações intermináveis sobre os assuntos.

Evidentemente isso somente foi possível devido à minha formação, de um lado, em Administração, e de outro lado, com mestrado e doutorado na área ambiental (no meu caso, em Ciência Florestal). Unir essas duas áreas do conhecimento foi vital para o desenvolvimento dos livros.

Em resumo: do trabalho de consultoria realizado na indústria de móveis publicamos o livro “Certificação Florestal na Indústria: Aplicação Prática da Certificação de Cadeia de Custódia”, pela Editora Manole. Dos estudos sobre comportamento do consumidor, publicamos o livro “Consumo Verde: Comportamento do Consumidor Responsável”, pela Editora UFV. O trabalho feito sobre estratégia e vantagem competitiva originou o livro “Empresas Verdes: Estratégia e Vantagem Competitiva”, também pela Editora UFV. Os três livros supracitados foram escritos em parceria com o orientador, professor Laércio Jacovine, grande amigo até hoje, sendo que os dois últimos livros também tiveram participação de outros professores e/ou pesquisadores.

E ainda com o estudo sobre marketing, foi publicado o livro “Marketing Ambiental: Sustentabilidade Ambiental e Mercado Verde” pela Editora Manole, sendo que fui o autor único do livro.

Efetivamente sobre a tese de doutorado não publicamos nenhum artigo em revista, mas ele gerou as bases para a publicação de quatro livros. Até publicamos artigos durante o doutorado, no entanto eles foram de trabalhos paralelos, não vinculados diretamente à tese e envolvendo, principalmente, a certificação florestal.

Para terminar, eu sempre pensava (e penso ainda) que um artigo tem o fator limitante do número de páginas, a linguagem muitas vezes técnica e difícil de ser compreendida, além de atender a um público geralmente restrito.

No meu caso particular, eu queria uma divulgação mais ampla dos temas “Administração e Sustentabilidade” e a melhor forma que encontrei foi na publicação dos livros. Espero que tenha sido o melhor caminho e que tenha atingido um maior número de pessoas!

Até a próxima!

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