No texto anterior apresentei como foi minha experiência como consultor e quais as dificuldades ocorridas inicialmente, principalmente devido à falta de conhecimento tanto em consultoria como no tema inerente à certificação florestal.
Todavia, os meses se passaram e era natural que houvesse cobrança por parte do proprietário. Mesmo a consultoria sendo gratuita havia um resultado a ser apresentado por mim. Assim, passados quase dois anos desde o início da consultoria, e depois de muitas “voltas em círculos” (devido à minha falta de experiência), o empresário pediu uma definição. “Afinal de contas, quando poderei chamar a auditoria?”. Fui sincero com o dono da empresa. Expliquei que dentro do que pedia o manual da certificação, eu acreditava que estavam sendo cumpridas as exigências.
Ponderei, contudo, que o consultor é como um professor particular e que o auditor é como o professor que efetivamente aplicará a prova. Por fim, que o manual da certificação era como a matéria da prova.
Assim, como consultor eu deveria ser capaz de “ensinar” a empresa a atender todos os pontos do manual de certificação, assim como o professor particular repassa toda a matéria para o aluno. Contudo, o que vai cair na prova, ou seja, o que será efetivamente cobrado pela auditoria, poderá ou não ir ao encontro do que foi estudado. Quem poderá saber o que vai mesmo cair na prova, senão o próprio professor? Desta forma, alguns aspectos poderiam ser interpretados equivocadamente por mim e implicar em prejuízos para a empresa.
Deixei todos estes aspectos claros para o empresário e ele foi bem consciente ao dizer: “Entendo e teremos que correr este risco juntos”. Assim fizemos.
Passei uma listagem de certificadoras aptas a realizar a auditoria em certificação florestal e deixei esta parte comercial, como deveria ser, com o empresário. Haveria um contrato e valores financeiros envolvidos, então, como consultor, não teria porque me envolver. Após definirmos que o trabalho de consultoria estava concluído, o empresário fez o acordo com a certificadora e, em um mês, ela foi auditar a empresa. Isso ocorreu em Março de 2010.
Participei de todo o processo de auditoria, acompanhando as observações da auditora. Isso representou para mim mais um elemento de aprendizado! Pude acompanhar as análises e o que efetivamente era avaliado por eles. Anotava tudo o que eu podia!
Ao final da avaliação, a empresa tinha quatro não conformidades “menores” e uma “maior”.
As “menores” não inviabilizam a certificação devendo, no entanto, ser feito um plano de ação que será avaliado e posteriormente cobrado no monitoramento (a ser realizado de seis a doze meses após a avaliação principal). Já a não conformidade “maior” tranca a obtenção da certificação até que ela seja totalmente resolvida. No nosso caso, foi uma questão de documentação, que foi prontamente atendida.
Agora era esperar pelo veredito final, visto que o processo era encaminhado para especialistas. O empresário tinha um pouco de pressa, pois naquele ano ocorreria a tradicional feira de móveis do polo e caso a resposta chegasse até meados de maio seria interessante divulgar a certificação no evento.
Pensamos nas possíveis estratégias de marketing, contando que o resultado da avaliação seria favorável para a empresa. O empresário definiu que iria encomendar algumas centenas de lápis com os dizeres “primeira indústria de móveis de cozinha e dormitórios certificada no Brasil em MDP”. De fato, ao analisar o banco de dados de empresas certificadas à época, a empresa realmente era a primeira, visto que a maior parte das empresas moveleiras trabalhavam com madeira maciça e não com painéis reconstituídos como o MDP (o antigo aglomerado).
O empresário, por sua conta e risco, encomendou as centenas de lápis à Faber Castell, que já ostentava em seus produtos o selo FSC. A ideia era usar um produto que já contivesse o selo FSC e unir aos dizeres da empresa, bem como ao seu logotipo. Paralelamente, elaboramos uma cartilha sobre a certificação florestal para móveis, de meia página A4. Na dobra da folha colocava-se o lápis certificado, identificando a empresa e o selo FSC (que na realidade era do lápis da Faber Castell).
Entendíamos que era necessário haver a educação dos clientes e visitantes da feira a respeito do que era a certificação florestal e sua aplicação na indústria moveleira. Mesmo que o cliente jogasse fora a cartilha, certamente ele manteria o lápis, ficando a divulgação assegurada.
Para sorte do empresário (e para a minha também), no início de maio saiu a aprovação final e a emissão do certificado. Mas o tempo era pequeno para se fazer grandes divulgações no estande da empresa na feira, pois levava tempo obter as aprovações do FSC a respeito dos materiais promocionais do selo. Assim, a única coisa que poderia ser divulgado no evento era o próprio certificado enviado pela certificadora.
Desta forma, nas paredes do estande o visitante podia ver, em tamanho grande, o certificado obtido pela empresa, bem como os dizeres informando que ela era a primeira indústria de móveis de todo o país a ter o certificado.
Desnecessário dizer a felicidade do empresário ao poder divulgar, em uma das feiras mais importantes do país, a obtenção do selo FSC. Além da divulgação nas paredes do estande, cada visitante recebia a cartilha com o lápis certificado.
Nas semanas posteriores ao evento, voltei à empresa para me despedir e agradecer a confiança. Saí com a sensação do dever cumprido e mais feliz ainda com as palavras do empresário: “precisamos de projetos desta natureza aqui no meio empresarial. Não queremos um aluno que só venha obter informações de nossas empresas e que depois vá embora. Tem que ser uma via de mão dupla. O estudante tem que trazer algo positivo para a empresa e, em troca, obter as informações que necessita. Com projetos que deixe isso claro, é evidentemente que construiremos parcerias”. Acho que fica a dica para todos os pesquisadores que leem este texto.
Como eu sempre digo. Para lidar com empresários é necessário falar a “linguagem” deles. Prove que seu projeto será interessante para a empresa dele e que poderá dar-lhe retorno e tu construirás uma parceria!
Toda a experiência de consultoria e os resultados obtidos estão no nosso livro “Certificação Florestal na Indústria: Aplicação Prática da Certificação de Cadeia de Custódia”, publicado pela Editora Manole. Maiores informações, como o resumo do livro, podem ser obtidas em nosso website (administracaoverde.com.br).
Até a próxima!