Teoria ou prática na administração?

Quando eu fazia graduação em Administração na UFV, como todo aluno, havia disciplinas que eu gostava mais e outras que gostava menos. Em alguns casos, o assunto da disciplina era o maior motivador, mas também acontecia de disciplinas “mais chatas” serem tão bem ministradas por professores, que ela também se tornava interessante.

Nesse contexto, e talvez por fazer o curso de graduação a noite e, ao mesmo tempo, trabalhar em uma empresa durante o dia, eu tenha me tornado um pouco crítico com a forma que algumas disciplinas eram ministradas. Parecia haver “falta de sintonia” entre a teoria da sala de aula e a prática do dia a dia das empresas.

Analisando, posteriormente, eu me dei conta que muitos professores possuem sua carreira somente na área acadêmica, ou seja, fazem a graduação em uma área, depois o mestrado, doutorado, algumas vezes o pós-doutorado para, enfim, realizar um concurso público para entrar na universidade. Certamente alguns desses professores nunca pisaram em uma empresa para trabalhar, nunca passaram um cartão de ponto e nunca foram cobrados por seus chefes.

Vejam que não é uma crítica, é apenas uma constatação! Assim, penso eu, torna-se complicado levar uma visão mais prática da realidade das empresas, quando não se passa por tal experiência. Especificamente em Administração isso tem uma importância vital. Logicamente, a falta da vivência prática pode ser minimizada por esses professores com a apresentação de estudos de caso em sala de aula, palestras com administradores e empreendedores, apresentação de vídeos que ilustrem a situação do dia a dia das organizações etc. É possível, portanto, criar novos elementos para estreitar a distância entre a teoria e a prática.

Lembro-me bem que a maioria dos meus colegas da Administração (nossa querida turma ADM 98) fazia estágio, participava de iniciação científica, empresa júnior e diretório acadêmico, enquanto que alguns poucos (como eu) trabalhava efetivamente registrado em uma empresa. Em alguns debates existia essa dúvida: o que é mais importante, a teoria aprendida em sala de aula ou a vivência prática no dia a dia das empresas? É possível um acadêmico chegar próximo ao dono de uma empresa e sugerir algumas mudanças para dinamizar o negócio? Estaria ele querendo “ensinar o padre a rezar a missa”? Por outro lado, o empresário não teria nada a aprender com a teoria ensinada nos bancos escolares das universidades e faculdades?

Estes questionamentos fizeram parte da trajetória da nossa turma e algumas disciplinas contribuíram para que, cada um de nós individualmente, pudesse formular a resposta que acreditasse ser a mais plausível.

Especificamente em relação à minha opinião, entendo que discutir o que é mais importante, ou seja, se é a teoria ou a prática, é como discutir o que vem primeiro: o ovo ou a galinha!

Assim, penso eu, a teoria reforça os conhecimentos práticos, ao passo que a prática reforça os conhecimentos teóricos. O mais importante é conseguir visualizar na prática diversos aspectos que aprendemos na teoria e visualizar na teoria as diversas situações que enfrentamos na prática do dia a dia nas organizações.

Todavia, agora sim eu faço uma crítica ao fazermos este debate entre teoria X prática: já perceberam como existem diversas “fórmulas mágicas” ou “receitas de bolo” na Administração? São aqueles textos que nos “ensinam” a: como ser um bom líder em 8 lições; 5 dicas para ser um empresário de sucesso; o que fazer e o que não fazer para ser um bom gestor de pessoas etc.

Vocês já viram textos desta natureza? Ao lê-los parece que é tudo muito simples, basta seguir as “dicas infalíveis” e tu obterás o sucesso que almeja! Mas será que a regra que vale para uma determinada empresa, valerá para outra? Duas empresas do mesmo ramo de atividade, do mesmo porte, do mesmo número de funcionários e localizada na mesma cidade ou região, ainda assim serão diferentes! Por que isso ocorre? Porque as pessoas que compõem as duas empresas são distintas, com habilidades, visões e condutas diferentes. Isso vale para o “chão de fábrica” (operários) e também para os mais elevados cargos.

Estes fatores, portanto, “moldam” a cultura e o clima organizacional de cada organização, temas, muitas vezes, pouco compreendidos por professores que abraçaram somente a carreira acadêmica.

Desta forma, toda a discussão envolvendo a teoria e a prática aguçava meu pensamento, mas nunca deixei de acreditar na importância igualitária das duas.

Neste contexto, eu pensava, na minha visão de estudante, que o ideal seria que o professor tivesse o conhecimento teórico advindo de sua formação na graduação e na pós-graduação e que seria altamente desejável que possuísse também alguma experiência profissional em organizações. Por que? Porque ele poderia “enxergar” situações práticas do dia a dia e que não se encontram em livros. E realmente as melhores disciplinas que tivemos vieram daqueles professores que conseguiam passar a teoria permeada com a prática!

Confesso que até o final da minha graduação em Administração eu nunca pensava em ser professor, apesar da vocação familiar para a docência. Como muitos estudantes, eu tinha verdadeiro horror em falar em público e minhas apresentações de seminários eram terríveis, com pouca ou nenhuma coordenação e utilizando sempre um texto à mão para me ajudar a fazer os comentários. Nas minhas apresentações sempre tinha algum colega, lá no fundo da sala, que ria de mim, mas eu não me deixava abater na hora porque eu sabia que eles, bem lá no fundo, tinham o mesmo medo e terror de falar em público do que eu! rsrsrs

Contudo, no mestrado, minha visão mudou. Com o apoio do professor e orientador Laércio Jacovine, comecei a dar aulas na graduação em Engenharia Florestal, como parte da disciplina Estágio em Ensino do mestrado. Pude, então, aprender bastante em termos de didática e a pensar seriamente em ser professor.

A meu favor eu tinha a bagagem profissional em empresas, a formação em Administração e o mestrado em Ciência Florestal. Eu imaginava que estas múltiplas habilidades poderiam ser interessantes ao ministrar uma aula. Evidentemente, eu ainda teria muito a melhorar. E ainda tenho, pois o professor nada mais é do que um eterno estudante!

Somou-se a estas habilidades a experiência que obtive no processo de consultoria visando à certificação florestal em uma indústria de móveis. No entanto, esse será tema para a nossa próxima conversa.

Até a próxima!

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1 comentário em “Teoria ou prática na administração?”

  1. Bah!! adorei ler! responde a muitos anseios nossos! adorei o exemplo da prática com a teoria relacionando quem veio primeiro o ovo ou a galinha! Concordo com o senhor! Acredito que para ser um bom facilitador devemos ter passado pelas duas experiências.

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